Expandir os horizontes e morar em outro país nem sempre é fácil. Muito além da adaptação ao idioma e aos costumes, o impacto para um designer pode ser ainda mais intenso, já que a cultura e os códigos construídos a partir dela são instrumentos para o nosso trabalho. Quais são os desafios e ganhos dessa experiência?
Na 14ª edição da #PororocaMegalo, Gabriela Namie, diretora de arte no YouTube Music, em Nova York (EUA) e Samuel Profeta, designer gráfico que atuou na liderança criativa da Cowan, em Beijing (China), bateram um papo conosco sobre as experiências da atuação como designer no exterior.
“Muitas pessoas me perguntam como é ser gay na China. Não senti nenhum tipo de opressão neste sentido, mas pra um chinês isso é mais complicado. E existe um senso de hierarquia muito forte. Numa reunião os lugares eram demarcados por cargo, sentavam numa fileira: o estagiário, o assistente, o Júnior o sênior e o CEO. Depois de apresentar falava primeiro o estagiário e o por último o CEO já que é a pessoa que tem a última palavra. Isso pra gente que é latino causa uma certa estranheza.”
“Um certo layout era sobre maracujá, comecei a fazer o layout empolgado usando amarelo e quando fui mostrar para o atendimento ela questionou a escolha da cor dizendo que na China o maracujá é roxo”.
“A china é uma ditadura comunista, isso acaba pautando todas as esferas do país, um exemplo disso é o bloqueio ao acesso de coisas comuns pra gente como Google, Facebook, WhatsApp, Instagram. Viver nessa dinâmica de censura e vigilância causa um certo desconforto.”
“Achei que um estagiário da China iria entregar igual a um do Brasil. Isso foi decepcionante por que eles estão anos-luz em termos de rapidez, senso estético, software, em tudo. Mas essa falta de jogo de cintura, de saber conversar, saber lidar contornar a situação é uma coisa que eu senti falta e que é muito típico do Brasil.”